terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Terra dos Sonhos... Terra de Oportunidades

A Terra dos Sonhos não é só um mundo de magia onde as crianças esboçam sorrisos e convivem com personagens imaginárias. Revela-se terra de oportunidades para quem procura emprego ou se aventura na representação.

O Pai Natal, os três porquinhos, a Branca de Neve ou o Gato das Botas são algumas das figuras centrais da iniciativa que decorre até ao dia 27 na Quinta do Castelo e que tem atraído centenas de crianças. Depois de no sábado ter havido um acidente numa bancada, que provocou ferimentos em 15 pessoas, o funcionamento do parque temático regressou à normalidade.

A imensa logística que dá corpo à Terra dos Sonhos faz-se de outras figuras imprescindíveis, quase imperceptíveis aos olhares dos visitantes, e revela-se uma oportunidade única para jovens recentemente formados e adultos no desemprego ou que procuram uma fonte de rendimento suplementar. Mário Oliveira, 33 anos, ex-trabalhador da construção civil de olhar intenso e conversa afável, passa despercebido no meio da pequenada, enquanto cumpre mais uma tarefa. Não faz parte dos personagens notáveis do imaginário infantil, mas mostra-se "feliz" com as suas funções. Pintar, transportar objectos ou efectuar recados são actividades que cumpre com afinco.

Afastado da construção civil devido a uma lesão, procura emprego há dois anos. "Tentei de tudo, mas não consegui arranjar trabalho. Deixei de poder ajudar a minha mãe a pagar a renda de casa e outras despesas", recorda. O cenário mudou quando se inscreveu na Empresa Municipal Feira Viva, entidade responsável pela realização da Terra dos Sonhos e outros eventos.

"Comecei este ano na Viagem Medieval e fui novamente chamado para a Terra dos Sonhos", conta Mário Oliveira, sentindo-se, agora, novamente valorizado. Garante que a experiencia está a ser espectacular: "Tratam-me muito bem e faço muitas amizades. Adoro este tipo de trabalho", confessa. A compensação monetária é "uma ajuda" para os gastos imediatos, pois não se trata de um emprego para todo o ano. Contudo, serviu de incentivo para novas oportunidades. "Não desisto. Vou continuar a lutar para ter um emprego a tempo inteiro", concluiu .

Os relatos de quem tem na Terra dos Sonhos uma oportunidade profissional sucedem-se. Rosa Maria, 47 anos, tratada carinhosamente por "dona Rosa", é uma das caras mais conhecidas e uma das colaboradoras mais antigas: "Estava desempregada e decidi inscrever-me. É uma maneira de distrair-me, sentir-me útil e ainda ganho algum dinheiro".

Também Elsa Almeida, 21 anos, com licenciatura na área da representação concluída em Junho, se encontrava desempregada. "Isto apareceu do céu e a parte monetária ajuda sempre, além de ser uma boa rampa de lançamento profissional. Adoro o imaginário infantil", disse. Opinião partilhada por José Fernandes, 31 anos, que encarna a personagem do chapeleiro maluco da historia da Alice no País das Maravilhas. Este programador de páginas para a Internet diz que foi "atraído pelo lado artístico e a necessidade de fazer algo com as crianças".

@ Jornal de Notícias

6 comentários:

NoiteNegraDeAzul disse...

Um trabalho precário ser uma oportunidade é demagogia barata...

Bruno Costa disse...

Haja proactividade... melhor trabalho sazonal do que nada!
Numa cidade que se quer afirmar no turismo cultural esta será uma realidade cada vez mais viva.

NoiteNegraDeAzul disse...

Então chamem-se "par-times" e não oportunidades, todos sabemos que um extra sempre fez bem ao orçamento, agora fazer do incerto um orçamento de vida, pode ser melhor que nada, mas apenas atesta a oportunidade de mais cedo ou mais tarde voltar ao nada efectivo.

Por isso dar ênfase a este tipo de situações como oportunidade não é mais que fomentar a precariedade do trabalho, que em nada favorece a dignidade humana.

Mas são pontos de vista e opiniões não é BC?

:-)

Bruno Costa disse...

Ora... há sempre pontos de vista diferentes. :)

No contexto social de hoje, eu continuo a encarar esta situação como uma oportunidade... não de emprego de futuro, mas de contactos e proactividade, cada vez mais importantes na busca de emprego.

Mosteirô- SMfeira disse...

Esta é uma empresa municipal, por isso não deve "contratar" gente desta maneira. Como é dá a saida de caixa deste tipo de voluntariado?
Agora o modelo e o pingo doce entre outras também vão optar por essa via, como é que ficará o emprego em portugal?
Uma empresa municipal tem de ser a primeira a dar o exemplo. Não achas?
Uma empresa não é uma associação!!!
Para isso criavam a associação municipal de gestão pública.

afc238 disse...

Não sendo totalmente conhecedor dos moldes em como as pessoas que trabalham na Terra dos Sonhos foram 'colocadas', é do conhecimento de todos que para muitos que lá estão não é a primeira vez que participam nas mais diversas acções da Feira Viva de uma forma voluntária. Além disso, sabe-se também que a Feira Viva desenvolveu desde há meses atrás um "banco de recursos", i.e., um conjunto de pessoas que se inscreveram voluntariamente para poderem ser chamadas se necessário aquando das actividades da Feira Viva.