domingo, 5 de dezembro de 2010

Pagar ou não pagar para entrar no recinto da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria?

Há cerca de meia dúzia de anos que se vem tocando no tema, sem que na realidade o projecto tenha avançado ou caído de vez. Desde o primeiro dia me mostrei contra. Ora, falamos de espaço público, com área residencial, comercial e de serviços. Temos ruas de grande tráfego e acesso ao Castelo, cemitério, Igreja e Convento dos Lóios, assim como ao Mercado Municipal. Numa visão claramente superficial, pouco económica e nada futurista o conceito de velho do Restelo cai que nem uma luva e parece ser a solução. Com bilheteira só se vislumbram complicações para o público e habitantes, assim como a previsível redução de visitantes. Mas chegamos ao ano 2010… quase a virar a página para 2011… uma crise global é real, assim como um evento que começa a notar alguns pontos negativos pela enchente em demasia. Ora, vamos então reflectir sobre a Viagem, os bilhetes, o recinto, os visitantes, o centro histórico, a realidade económica e de orçamento e a vizinhança no panorama cultural do concelho.

Acredito que devo começar pela motivação número 1: o orçamento. A crise obrigou ao aperto de cinto e, como todos sabemos, a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira decidiu apertar em demasia. Ao que parece alguns FILHOS desta gente não conseguirão sobreviver à escassez de verbas e recursos. Decidiu-se pela redução das verbas a transferir para a Feira Viva em 50% e um “toca a fazer o melhor”! Pois, a empresa municipal passa a contar com menos de 400 mil euros da autarquia para TUDO o que tem em mãos [eventos, gestão de piscinas e pavilhões, Zoo de Lourosa,…] e tal valor não será sequer suficiente para a manutenção do Zoo de Lourosa. Resumindo, o aperto do cinto é tal que alguém terá mesmo a corda na garganta. Oxalá não sejam as aves de um dos melhores parques ornitológicos a sofrer com esta escassez de verbas.

A acção do Movimento contra a Suspensão do Imaginarius atingiu o objectivo… o executivo municipal acrescentou o Festival Internacional de Teatro de Rua aos eventos obrigatórios, ou “estrelinhas” da Feira como por aí já se diz. É claro que me satisfaz tal facto… mas nem por isso a verba aumentou… o corte é real e não há capacidade de responder a todos os eventos.

Há, então, que procurar alternativas… nunca desistir. E na Viagem Medieval poderá estar a solução. Nesta perspectiva não poderei deixar de concordar com a cobrança à entrada do recinto. As largas centenas de milhares de visitantes darão um forte contributo para a tão falada auto-sustentabilidade do projecto, assim como para a manutenção de outros eventos do concelho. De qualquer forma não se deverão descorar um conjunto de pontos fundamentais.

Primeiro: número de visitantes. Durante anos se protelou a eventual redução do impacto de público com a introdução de bilheteira [inclusivamente eu], mas na verdade atingimos um nível de visitas que começa a perturbar o bom funcionamento do evento. O ideal seria aumentar a área do recinto, mas nas condicionantes actuais, uma ligeira redução de visitas até traria vantagens ao nível da segurança e da qualidade do evento. Isto, acreditando naquilo que até aqui se anunciava, até porque um sistema de bilheteira bem desenhado e equilibrado, com o ajuste das áreas de acesso pago no interior do recinto, não deverá representar quebras deveras acentuadas. Pelo que se sabe, estarão em cima da mesa valores na ordem do euro a euro e meio pelo bilhete diário e três euros pelo passe para todos os dias da Viagem. Acredito que desta forma ninguém deixará de visitar o evento… mas há que salvaguardar que com o pagamento de entrada o nível de satisfação CAI quando se pede para voltar a pagar no interior.

Por outro lado, há que considerar o recinto, os acessos e a vedação. Segundo as informações que me chegaram, a organização estará já a trabalhar arduamente neste sentido, de forma a definir todos os pormenores e complicações o quanto antes, permitindo delinear estratégias e alternativas atempadamente. Se a utilização do Parque da Cidade, Guimbras, envolvente ao Convento, Quinta do Castelo e Castelo não me suscitam dúvidas… já o centro histórico poderá trazer complicações. Importa salvaguardar o acesso às residências, comércio e serviços… assim como cemitério e igreja, eventualmente com a transferência de missas para a Igreja da Misericórdia, durante o evento. Quanto ao resto, a distribuição de pulseiras passe aos residentes e criação de bilhete reembolsável para acesso comercial serão certamente casos a considerar.

Tratando-se de um facto imprescindível nas condicionantes financeiras actuais, importará mais concertar estratégias no sentido do bom funcionamento do sistema, evitando polémicas e dúvidas de primeiro impacto, do que discutir a pertinência e alternativas que não me parecem estar à vista. Resta agora aguardar pelas conclusões do estudo para a implementação deste sistema de bilheteira, de forma a compreender a 100% aquilo que teremos pela frente e eventualmente tecer alguns comentários e sugestões no sentido da melhoria.

3 comentários:

Bruno Pinho disse...

Concordo com o pagamento pois a ultima VM pecou pela massiva afluência de publico. Vamos ter uma Viagem Medieval com qualidade e não quantidade pois com qualidade também se consegue retorno financeiro! Quanto á questão da vedação questiono-me quanto sua viabilidade, prevejo alguns problemas com a zona residencial e comercial (bares e restaurantes essencialmente), mas com alguma "artimanha" de bom português julgo que os responsáveis conseguirão chegar a bom porto!

afc238 disse...

Na minha opinião, infelizmente a questão do público "a mais" só se põe porque o belo do Tuga gosta de deixar as coisas para a última da hora. Basta ter um olhar mais atento para perceber que a Viagem só começa a ter uma grande afluência de público a partir de meados da "2ª semana", ou seja, já vai a Viagem a meio. Claro que a partir daí sente-se que há gente a mais!
Quanto às entradas pagas, concordo em pleno com as necessidades económicas, mas também há que concordar que para além da queda do "nível de satisfação" ao voltar a pagar no interior, as pessoas vão DEIXAR de pagar no interior. Tenho ideia que a venda de programas com vales de desconto nas várias estruturas municipais (termas, museus, etc.) foi muito bem acolhida na última edição, tendo inclusivé esgotado e motivado um investimento maior nesta matéria para a próxima edição - pelo menos era assim que se dizia em Agosto.

Quanto à vedação, simplesmente não vale a pena! A área é grande demais, o comércio e a restauração não iriam aceitar, e iria trazer ainda mais problemas de "segurança" à Viagem, na medida em que estariam mais preocupados em potenciais visitantes à socapa ou em estragos nas vedações (e em áreas temáticas vedadas com dimensões mais pequenas já se tem visto qual é a atitude de por quem lá passa!), do que na real segurança das pessoas e bens e do evento em geral.

Por agora resta aguardar pelas propostas que vão surgindo, tendo também a noção que estas medidas não estarão a ser tomadas de ânimo leve.

(E já nem falo aqui do Orçamento total para as piscinas e zoo, até porque nem tenho noção de quanto "as casas gastam")

Bruno Costa disse...

André, é mesmo isso... tudo muito subjectivo... TUDO depende da reacção "inesperada" do Tuga!
À distância nunca vamos compreender a 100% o que se irá passar se actuarmos de uma determinada forma.
Pessoalmente acredito que se perderá um pouco do conceito de festa popular, pelo menos no início, dado que o peso, mais psicológico, do pagamento à entrada vai criar algumas resistências. Mas quero acreditar, que a confirmarem-se os valores anunciados, não vamos notar quebras significativas.

Quanto à vedação... vai ser preciso investir... o sistema da Terra dos Sonhos não será de todo eficaz... o conceito de vedação de festival de Verão será necessário. Quanto às resistências de moradores e comerciantes, tudo dependerá das contra-propostas da organização e do sistema de bilheteira em si. Temos de aguardar pelas conclusões da equipa que já trabalha no assunto. :)