quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Manifesto: Imaginarius em tempo de crise

O movimento “Contra a Suspensão do Imaginarius 2011”, recentemente criado através do Facebook, está indignado com a possibilidade de suspensão da edição 2011 do festival Imaginarius. Em apenas 48 horas, mais de 400 pessoas já se juntaram à causa.
Pretendemos uma resposta concreta do actual executivo camarário quanto a esta questão, sendo que não poderemos estar de acordo com a suspensão de um projecto deste calibre.
Antes das sugestões para a manutenção do projecto, achamos por bem relembrar o percurso de vida do festival.

O Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira, nasceu em 2001, pelas mãos de Carlos Martins e com a figura de Alfredo Henriques sempre presente. Em apenas 3 anos a reputação do festival cresceu exponencialmente, de tal forma que o figurino foi revisto de forma a aumentar a coerência e interligação entre espectáculos. No mega Imaginarius 2003 (ano de transição de figurinos) algo correu ainda melhor. Na mira estava o EURO 2004, e a Feira aspirava atingir o patamar de coordenação do projecto de animação. O Imaginarius entrou na “guerra” com algumas dezenas de projectos concorrentes… e foi eleito. Sob o signo do Imaginarius nasceu a “Festa das Cidades”. Sob a marca Santa Maria da Feira o EURO 2004 conheceu grandes nomes das artes de rua e da música.

Amadeu Albergaria transformou-se no pai adoptivo do festival. A partir de então, o projecto especializou-se. A componente criativa cresceu de forma brutal. Há cinco anos começava a falar-se num centro de criação. Ao longo deste percurso criaram-se raízes, desenvolveram-se as polémicas típicas deste tipo de arte… excelente resultado. Santa Maria da Feira surge agora com a marca “Capital Nacional das Artes de Rua”.

Decide-se avançar com o CCTAR – Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua. A estrutura pensada para o antigo matadouro municipal entrou num concurso de ideias e “aterrou” na Pedreira das Penas.

Amadeu Albergaria ruma a Lisboa e o Imaginarius tem pela primeira vez uma mãe. Cristina Tenreiro assume as hostes, com a figura de Alfredo Henriques ainda presente.
A crise aperta. O Imaginarius aperta o cinto. A última edição foi low-cost e deu bem menos nas vistas. Até aqui nada de problemático. Há que se ajustar à situação económica.

A crise continua a apertar… o CCTAR muda o conceito de edifício e liberta a pedreira. O Imaginarius está com a “corda na garganta”. A actual proposta pondera a suspensão da edição 2011 do festival.

O actual executivo está prestes a criar um drama cultural na cidade feirense. A suspensão poderá ditar a MORTE de um dos MAIORES FESTIVAIS DE RUA DA EUROPA, com enorme reconhecimento internacional. Pelo Imaginarius já passaram nomes como La Fura dels Baus, Spencer Tunick, Manoel de Oliveira, Oiviero Toscani, Joana Vasconcelos, Zenildo Barreto, Royal de Luxe, Titanick, Dario Fo, José Saramago, Plasticiens Volants, Generik Vapeur, Walk the Plank, Transe Express, Metalovoice, Strange Fruit, Improbable Theatre, Markeliñe, Leo Bassi, La Salamandre, Groupe F, Gran Reyneta, Antagon, Cacahuete, Doedel, Kumulus, Ilotopie, Grupo Puja!, Voalá e Les Commandos Percu.

O desenvolvimento de criações originais reforçou a componente criativa e desenvolveu dinâmicas ao longo de todo o ano.

A suspensão de uma ou mais edições do festival terá como primeiro impacto a paragem quase total desta actividade. A “Geração Imaginarius” ficará gravemente ferida, sem que a cura esteja à vista. A médio prazo, um interregno poderá mesmo ditar a MORTE do projecto e do slogan em terras feirenses.

Por outro lado, alguns agentes económicos da cidade já demonstraram a sua preocupação pela perda de negócio neste período, assim como das repercussões a médio prazo.
O movimento “Contra a Suspensão do Imaginarius 2011” não acredita no que está em cima da mesa. Não conseguimos sequer imaginar esta possibilidade.

Ao actual executivo, que continua sob alçada de Alfredo Henriques, solicitamos:
- NÃO MATEM O IMAGINARIUS, VOSSO FILHO;
- NÃO QUEIRAM FERIR DE MORTE TODA UMA GERAÇÃO QUE CRESCEU PARA A CULTURA SOB A MARCA IMAGINARIUS;
- NÃO TENTEM RETIRAR A FEIRA DO MAPA DA CULTURA NACIONAL.

Ainda vamos a tempo! QUERMOS O IMAGINARIUS EM 2011 E SEMPRE, para tal deixamos uma vasta lista de sugestões de forma a avançar para uma edição ainda mais low-cost e com perspectivas de criação de receita.

Suspender o Imaginarius!? NÃO, OBRIGADO!

Propostas para o Imaginarius 2011:
Redução temporária do Festival a 2 dias (Início ao final na tarde de sexta-feira e término na madrugada de Sábado).
Forte aposta na sponsorização!
Criação de área de bares/refeições ligeiras e merchandising: “Espaço Imaginarius”.
Total ausência de bancadas e redução, ao máximo, de outras estruturas de apoio.
Reforço do programa “MAIS Imaginarius”, pela sua componente de baixo custo e interacção entre artistas.
Minimização da presença estrangeira, com apenas um macro-espectáculo de encerramento e dois espectáculos de maior dimensão no final de cada noite (eventualmente companhias portuguesas poderão fazê-lo: ex. Teatro do Mar).
Aposta na animação de rua, sem o conceito típico de espectáculo.
Aposta na criação local com minimização de custos, através da coordenação e partilha de equipamentos e estruturas, via CCTAR.
Centralização total de espectáculos (temporariamente), de forma a evitar o efeito de dispersão, com consequências negativas no impacto para o público e na multiplicação de equipamento de ordem técnica.
Evitar os espectáculos gratuitos de acesso limitado, pela “agitação” que provocam no público, com as consequências que daí advêm para a imagem do festival.
Regresso de espectáculos, de qualidade reconhecida, com entrada paga, à semelhança do que aconteceu em 2003 e 2009, com grande sucesso.
Dinamização da tarde de sexta-feira com o “Imaginarius das Escolas” (espectáculos de crianças para crianças).
Manter o afastamento dos projectos pirotécnicos até melhores dias.
Aposta no pós-Imaginarius. Convidar os bares do concelho a animar praças e ruas com música e pequenas performances, nas madrugadas do festival. Cativar receitas e promover envolvimento e satisfação dos visitantes, assim como, a captação de novos públicos.

P’ movimento “Contra a Suspensão do Imaginarius 2011”

4 comentários:

Carla Gradim disse...

Cá vamos nós apertar o cinto, desta vez iremos ficar sem algumas vitaminas culturais, e essenciais para o desenvolvimento mais feliz da sociedade... E continuam os senhores do Governo e afins com os seus automóveis topo de gama, e a engordar as contas pessoais em instituições bancárias estrangeiras!Que pobreza... :(

Anónimo disse...

as propostas que apresentas são de facto utéis para a realização do festival, restringindo os seus custos. Mas se a Câmara já não tem dinheiro, e tem de se endividar mais para o realizar então é melhor mesmo não o concretizar. Acredito que não se fale em fim, mas apenas em suspensão, que devido aos atuais constrangimentos financeiros é claramente aceitável. Este País anda a endividar-se demasiado. Quem não tem dinheiro não pode ter vícios. E há muito que a Câmara não rentabiliza os seus eventos, sendo o acontecimento mais vísivel a Viagem Medieval...

Anónimo disse...

concordo com o ultimo anonimo.
se estamos com falta de orçamento, para que individar-nos mais?
acho que temos mais onde aplicar o dinheiro para alem de fazer espectáculos para entreter o povo!
onde a protecção civil tem feito investimentos?
o flagelo dos incêndios atinge-nos todos os anos e o investimento nos bombeiros e na prevenção dos incêndios?
e volto a falar da porcaria das nossas estradas!! pode ser que quando tiver o azar de ter um acidente e for imobilizado num plano duro a caminho do hospital se lembre dos buracos!
já que o sr bruno costa gosta de buracos no pavimento eu não!

anonimo:)

Bruno Costa disse...

Acho que ainda ninguém percebeu o cerne da questão. Habitualmente fala-se em dinheiro GASTO com cultura. Eu não consigo ver dessa forma.
Porque se fala em dinheiro INVESTIDO a tapar buracos? Porque se desenvolve a economia vão-me responder.
E eu questiono, e a cultura não desenvolve a economia? A resposta típica vinda de uma escola de economia será DEPENDE. Pois passo a explicar esse depende na minha perspectiva. Acredito que não será a única.
O INVESTIMENTO EM CULTURA será todo o dinheiro gasto com algum resultado prático. É verdade que eventos mais efémeros (Rock.VFR, Festival da Juventude e mesmo a Terra dos Sonhos) tenham as suas características de investimento, mas ainda sejam acima de tudo gasto, que no meu entender também deve existir.
O resultado de 10 anos de projecto Imaginarius é bem diferente. O dinheiro gasto com este festival é puro investimento... não se recebe no imediato, mas tem dado frutos excelentes. Quanto custa o reconhecimento internacional de uma cidade? Já alguém avaliou quanto custaria a divulgação da cidade que o evento já conseguiu sem gastos nesse sentido?
Este é só um exemplo, já para não falar no retorno "directo" não para a organização, mas para os agentes económicos do município.

Em resumo, o principal problema da suspensão está na "marca" Imaginarius... cá dentro e lá fora. A pausa poderá deixar marcas. O dinheiro que não se vai gastar hoje poderá determinar perdas brutais de receita no futuro.
Falamos de um reconhecimento internacional brutal que pode conduzir num futuro a médio prazo a um evento com receita. Vamos deitar tudo a perder? Vamos destruir a imagem criada? Vamos destruir o único título de capital que a Feira tem?