sábado, 28 de fevereiro de 2009

40 Hectares para o novo Parque do Cáster

Decorreu na última noite a apresentação pública do projecto de requalificação e expansão do Parque do Cáster, em pleno Centro Histórico de Santa Maria da Feira. Os urbanistas Manuel Costa Lobo e Javier de Mesones deram a cara pelo seu projecto e explicaram todos os pormenores... da teoria à prática. Em resumo, o novo parque irá contar com uma área 4 vezes maior que o actual, num total de 40 hectares, que se estendem até à estrada de Travanca. Na prática falamos de uma primeira fase de um projecto verde que se pretende dar continuidade a montante e a jusante, sendo que já surge a ideia de o estender até ao mar.

Antes de se conhecer o projecto em pormenor, vale a pena perceber as questões teóricas das áreas verdes/azuis. Sim, porque este projecto pretende-se afirmar como área de lazer onde o verde se mistura com o azul e se apresenta como parte integrante da cidade. No início da noite, Javier de Mesones, apresentou a teoria que está por detrás do projecto. Daqui destaco alguns pontos... o conceito de parque através dos tempos. Se até ao século XX os esquemas de áreas verdes nas cidades eram multicêntricos, estáticos e monofuncionais, a partir de meados do século passado tudo mudou. O conceito de parque para o futuro apresenta-se como um espaço contínuo ao longo do espaço urbano, que permita a "respiração plena da cidade", num conceito dinâmico e multifuncional. Pretende-se então um espaço polivalente mas sem entraves físicos às actividades que lá podem ser praticadas. É preciso encontrar equilíbrios entre vários conceitos teóricos, como a vertente ética do parque e por contrasenso a vertente lúdico-erótica... num conceito absolutamente teórico, mas que deve ser alvo do maior equilíbrio no processo de desenho do espaço verde... espaço esse que se pretende também em equilíbrio com o azul. Neste campo encontramos um obstáculo em Santa Maria da Feira... não temos mais do que um rio muito próximo da nascente, é então preciso dar volume ao azul. A criação de lagos e canais apresenta-se como a solução de maior impacto para este projecto.
Por sua vez, o Prof. Manuel Costa Lobo, falou do desafio que foi conseguir encontrar equilíbrio entre todas as necessidades do projecto, que podem mesmo ser condicionantes. No caso em questão, entre outras, encontramos condicionantes de áreas de protecção de monumentos nacionais, zonas REN e RAN, projecto de uma rodovia a cruzar o rio na zona. É absolutamente necessário olhar para a solução como um todo e não para questões isoladas... é preciso encontrar a melhor solução no global e não a melhor solução para cada projecto isolado. Atendendo a tudo isto foi desenhado um espectacular projecto de Parque para o Vale do Cáster que se pretende ver no terreno já no final deste ano.

Olhando para o projecto propriamente dito há meia dúzia de destaques:
- olhar para o Parque como o equipamento em si;
- criação de um segundo canal de circulação de água e dois lagos;
- humanização do espaço;
- criação do estacionamento necessário e não do possível;
- instalação de serviços de apoio nas áreas periféricas, deixando o centro completamente livre para uso da população;
- desvio do traçado da rodovia de acesso ao Castelo, evitando mais uma passagem sobre o rio.


Pensando, agora, nos pormenores do projecto... avancemos de norte para sul. Tudo começa no Centro Histórico da cidade... na rua Dr. Roberto Alves, onde o rio está simplesmente entubado. O projecto, ainda sem solução final nesta zona, pretende dar vida e visibilidade ao rio... o objectivo é mostrar e não esconder o rio. Mesmo ao lado, o fundo da escadaria do Convento poderá receber mais um espaço de memórias... a instalação de um painel com a imagem de S. Sebastião é vista com agrado pelos projectistas.
O Rossio é uma das áreas críticas e que certamente muita tinta fará correr... a ideia volta a ser a mesma: eliminar os automóveis deste espaço e entregá-lo definitivamente aos peões, a solução apontada é a expansão do parque das Piscinas, que descreverei mais à frente. Aqui encontramos um dos pontos negros apontados... os 2 edifícios degradados ao fundo do Rossio... o projecto passa pela instalação de um restaurante/pousada naquele local.
O acesso fácil e agradável ao Parque foi outra das preocupações, daí que a designada ponte D. Dinis já se mostre como exemplo do que se pretende para a zona. Daí e até às Piscinas pretende-se a criação de uma zona polivalente do Parque, que possa receber maior número de pessoas, especialmente nos grandes eventos, e que será alvo de tratamento mais especial, com a instalação de caminhos em laje e empedrado. daqui parte a ciclovia em asfalto, que percorrerá toda a extensão do Parque.
Depois do edifício das Piscinas entramos na real zona de expansão. A partir daqui a ideia é a criação de um espaço o mais natural possível, onde os próprios caminhos serão de saibro e se estuda o melhor enquadramento paisagístico para a zona. Na sequência das Piscinas será criada uma área de comércio e serviços (bares, restaurantes e serviços de apoio) que fica de frente para a zona de expansão do parque de estacionamento, que se pretende seja a alternativa definitiva ao Rossio.
O terreno da antiga ETAR constitui-se como zona de reserva. Não existe actualmente projecto para o local, até porque daqui a algumas décadas poderá ser necessário efectuar algumas alterações... mas não quer dizer que não haja ideias... um santuário de pássaros ou eventual alargamento do estacionamento são duas soluções à vista.
O desenho do Parque desenvolve-se ao longo das margens do Cáster e de um segundo canal de rio, a criar, e na envolvente de dois lagos, a instalar, um primeiro que receberá espécies que permitirão a purificação da água e um segundo, de maiores dimensões, de águas límpidas.
O Parque termina na nova rodovia de acesso ao Castelo, de traçado revisto, e permitirá a continuidade do Parque para jusante através do desnivelamento do arruamento de acesso a Travanca.
A zona final do Parque recebe outro parque de estacionamento e um segundo edifício de apoio, que poderá receber um Serviço Ambiental.

As memórias são uma das preocupações do projecto, daí que o espaço tenha sido escolhido para a instalação do Conjunto Escultórico de Homenagem à Festa das Fogaceiras, criado por ocasião dos 500 anos da tradição.
Abrem-se ainda perspectivas de continuação, a jusante até ao terminus do concelho... e eventualmente com continuação em Ovar... e a montante na zona da Lavandeira e de Pombos. Actualmente já está prevista uma zona de protecção especial nas nascentes do rio.

Para a libertação dos 30 lotes de terrenos privados necessários, dar-se-à início a um processo de permuta de terrenos. Os proprietários receberão lotes com viabilidade de construção nas imediações do Parque, num conjunto de arruamentos a criar e que complementam a rede urbana da zona.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei bastante deste projecto do parque da cidade... Acabei de ler também no Jornal de Notícias. É um projecto que promete. No lugar da antiga ETAR gostei mais do Santuário de pássaros!
Estou ansioso por ver o parque em pleno funcionamento!