Hugo Meireles, médico Psiquiatra, está no Hospital desde o início. Chegou seis meses antes da abertura, a 23 de Junho de 1998, para ajudar a colocar a máquina em funcionamento.
Público - O atendimento aos utentes complicou-se desde que o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) saiu do hospital?
Hugo Meireles - A saída do SAP do hospital provocou uma diminuição significativa do número de doentes que vêm à Urgência. Os doentes que vinham ao SAP não eram propriamente doentes urgentes. Vinham, muitas vezes, à procura do médico de família ou de uma consulta que não encontravam no centro de saúde. A partir do momento em que os médicos deixaram de fazer horas no SAP, o atendimento deslocalizou-se para os centros de saúde. A abertura de unidades de saúde familiar, que nessa altura começou a acontecer na região, veio claramente mostrar uma diminuição muito significativa dos doentes que vinham ao hospital.
Continua a defender que os médicos de família devem assumir as suas responsabilidades?
Há muitos anos. Os SAP foram um mau serviço para o país. Foram uma resposta encontrada em determinado momento para resolver problemas locais em algumas regiões do país, em que, de facto, havia dificuldade na resposta em termos de consultas urgentes. Os SAP banalizaram-se e estenderam-se a muitas zonas. Não por interesse dos doentes, mas muito mais por interesses profissionais. Era uma forma de concentrarem o trabalho em algumas horas, de terem horas extraordinárias pagas. Não penso que o SAP fosse um serviço para o doente. É uma consulta aberta, feita por um médico que, muitas vezes, não deveria seguir o doente. Os médicos que estão fazer horas em SAP estão a retirar horas ao seu trabalho normal. Voltar a pôr os médicos no seu local de trabalho, a atender os seus doentes, a dar resposta às responsabilidades que sempre deviam ter assumido, é a forma mais correcta de fazer esse tipo de consultas. O encerramento do SAP é um bem para o país.
Quais são as especialidades que fazem falta ao Hospital de São Sebastião?
Basicamente, a Psiquiatria. É a única especialidade que, desde o início, não existe porque não há instalações no hospital que permitam criar este serviço. Na reconversão que está a ser feita, com a perspectiva de criação do centro hospitalar, este projecto volta a ser reequacionado e coloca-se a hipótese de haver um serviço de Psiquiatria a médio prazo. O que, aliás, está nos projectos da Direcção dos Serviços de Saúde Mental.
O hospital tem conseguido dar resposta ao fecho das maternidades de Ovar e de Oliveira de Azeméis?
Infelizmente, sim. Infelizmente, porque tem havido uma forte quebra de natalidade na região. Em 2000, quando encerrou a maternidade de Ovar, chegámos a fazer 3050 partos. Neste momento, com o encerramento da maternidade de Oliveira de Azeméis - que faria
O Hospital de São Sebastião foi o primeiro hospital a testar a gestão empresarial. É esse o caminho?
Não há outro caminho e não há retrocesso. Quando falamos em gestão empresarial não estamos a falar em privatização de hospitais, mas sim em utilizar métodos de gestão que são típicos das empresas. É o caminho para a sustentabilidade deste mundo empresarial dos hospitais, que representam sensivelmente metade da despesa do orçamento do Ministério da Saúde.
Nove anos de actividade do hospital provou-nos que é possível gerir um hospital em Portugal com sustentabilidade económico-financeira e com qualidade - pelo menos idêntica à qualidade média dos hospitais portugueses. Do ponto de vista económico-financeiro, o Hospital de São Sebastião foi o único hospital que conseguiu viver com o que é o pagamento feito pela produção do hospital.
Ao contrário da maioria dos hospitais portugueses, o Hospital de São Sebastião nunca recebeu verbas de convergência.
Entrevista de: Sara Dias Oliveira
Fonte: Público, 6 de Janeiro de 2008
in Portal da saúde
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