Continuando a aventura das entrevistas aos intervenientes da
última edição da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria estivemos à conversa
com Liliana Salomé, a responsável pelo projeto artístico incluído no espaço
Sentir do Guerreiro, em plena subida para o Castelo.
“Foi fixe!”
Antes de compreender o conceito que está por trás deste
espaço singular nesta edição da Viagem Medieval, façamos uma nova viagem no
tempo. Torna-se essencial a conhecer do percurso artístico desta jovem, de
forma a compreender as potencialidades deste e de futuros projetos artísticos.
Para isso, e dada a grandiosidade do currículo, deixemos cair o discurso
direto, pelo menos nesta fase.
Liliana começou a tocar piano aos 4 anos, em França. O seu
percurso regeu-se desde cedo pelas normas mais clássicas, como a própria
afirma: sempre me «ensinaram a andar na linha».
Mais tarde, já em Portugal, na Academia de Música estudou
acordeão e voz/canto, seguindo-se um percurso ligado à ópera, onde compreendeu
enormemente este submundo artístico, com enormes mais-valias para o sem projeto
nos anos seguintes.
Há mais de dez anos, integrou a Companhia Portuense de
Ópera, tendo participado na produção original para a Porto 2001 – Capital Europeia
da Cultura, um projeto «vivido intensamente» por todos os intervenientes. Pela
primeira vez, Liliana sentiu grandemente a sensação de perda aliada ao fim
destes projetos mais arrojados. Mas voltou com novidades.
Pouco tempo depois fez a Carmina
Burana, mas a ópera tinha um problema para a jovem: «os outros sonham e tu
fazes o que eles querem». E assim se começou a desenhar um novo rumo.
Seguiu-se o Grupo de Teatro Renascer (Esmoriz), onde fez
teatro de revista, uma nova e importante escola para um percurso tão
polivalente. Como representante deste grupo, levou a sua voz a França e abriu
portas a novas experiências e oportunidades.
Integrou a equipa do Teatro Sá da Bandeira, onde foi
cantora, atriz e bailarina, tendo mais tarde assumido a direção de produção da
Companhia Teatral Portuense.
Ingressou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no
curso de Teatro e Artes Performativas, onde teve a oportunidade de executar
inúmeros projetos.
Em 2009, chegou à Terra dos Sonhos, no papel de «secretária»
do Pai Natal, numa plataforma onde os meninos ficavam a saber se estavam aptos
a receber os seus presentes no Natal e que fez imenso sucesso.
Seguiu-se uma paragem no Centro de Criatividade da Póvoa do
Lanhoso, onde desenvolveu uma residência artística de 3 meses, com envolvência
plena da população e voltou a viver intensamente um sentimento de pertença
extrema a um local, vivenciando a dura barreira da perda e da despedida.
Em 2010, integrou a equipa do “Fossado”, na Viagem Medieval.
Ainda nesse ano, lançou um novo projeto em parceria com Saphir Cristal: Trapos
com Histórias, um conceito que está mais vivo do que nunca, procurando novas
abordagens de interação com as crianças quer seja na versão musical ou na
versão encenada. Ainda neste âmbito, estabeleceram uma parceria com a LIPOR,
levando a “Monstra do Lixo” a várias escolas do Porto.
A partir desta altura desenvolve um projeto de estátuas
vivas, que a levou a várias paragens em Portugal.
Ainda em 2010, regressou à Terra dos Sonhos, onde voltou a
ser secretária do Pai Natal, num novo espaço: a gruta da Quinta do Castelo.
Em 2011 regressou à Viagem Medieval, tendo integrado a
equipa do” Honra e Glória” e participou na Terra dos Sonhos com o projeto
“Conta-me Histórias”, do Zoo de Lourosa.
Já este ano, participou na curta-metragem: “Castelo Mágico”,
organizou o Festival de Estátuas Vivas de Vila Real e chegou à Viagem Medieval
com o projeto “Sentir do Guerreiro”.
Posto isto, passemos às questões e à compreensão do projeto
que a trouxe à Viagem Medieval 2012.
Como chegaste à
Viagem Medieval em 2012?
Liliana é perentória na afirmação: «por convite da Feira
Viva». Depois dos inúmeros projetos anteriores em produções para a empresa
municipal feirense, o convite surgiu: «pediram-me para mudar o conceito dos
últimos anos, utilizando novas ideias e perspetivas, sabendo de antemão que a
maior parte do público para a componente teatral é infantil». Assim, «baixamos
a idade alvo» para o espetáculo/circuito e decidimos que «os participantes
tinham que se sentir mais guerreiros». «Pretendia uma fuga às tradicionais
lutas» (e salvamentos de donzelas). Com isto, «fui fazendo o conceito no
percurso que estava pré-definido».
Destacas algum
momento desse percurso?
«A peculiar Iluminação particular da fada. Quando vi aquele
local com aquela luz, conseguida pelo sol, não tive dúvidas da sua utilização…
dá um lado poético ao circuito».
O conceito daquele local permitiu uma integração única. «A
Fada cria uma cena mágica. Sabes que nunca vais encontrar uma fada verdadeira,
mas que as há, lá isso há».
Há, ainda, o destaque para um momento muito concreto. «A
poção mágica despertou muitos comentários entre os participantes, em especial a
obrigatoriedade de a beber, por entre sopros mágicos e palhinhas».
Porquê um espírito
tão aventureiro logo ao início do espetáculo e após a aventura nas pontes?
«O início mais assustador serve para eliminar o síndrome “eu
já fiz grande cena ao passar a ponte, agora tudo é fácil”… e não é. Queria que
ficasse aquele friozinho no estômago. Quando eu dizia: eu tenho medo de passar
a porta, era esse mesmo o objetivo. Queria um clima algo assustador».
Mas conseguiste mais
do que isso, certo?
«Sim, há ainda o pormenor da interação entre os guerreiros,
potenciando conversas e criação de laços… para um percurso onde os adultos são
dispensáveis».
Porquê um Rei Anão?
«É uma questão de participação social. Já que não podia
recorrer a ninguém de cadeira de rodas, com muita pena minha, optei por uma
outra situação de integração.
Tudo isto nasceu de uma semana de participação num projeto
com a APN – Associação Portuguesa de Doentes Neuromusculares, onde a intensa
partilha com 6 fantásticas senhoras, lindas e divertidas me despertou a
consciência para este tipo de problemáticas e a necessidade de agir, alterando
a perceção social das coisas.»
“Tu és pequenino, mas és o Rei… és tu quem vai condecorar os guerreiros.”
E a questão da
assinatura dos participantes, no final?
«À saída, deixamos um livro de assinaturas, que nasce da
vontade de criar um registo de participação. Na impossibilidade de ser um
diploma, invertemos o conceito e ficamos com um livro de participações, dos
valentes guerreiros de Santa Maria».
E contar histórias na
Viagem Medieval, num registo semelhante ao que fizeste na Terra dos Sonhos?
«Eu ia adorar».
Há projetos na manga?
«Para já a aposta será nos Trapos com Histórias.»
Não abrindo muito o jogo, Liliana deixa em aberto um futuro
promissor e voltaremos, sem dúvida, a contar com ela nos projetos artísticos de
Santa Maria da Feira.
Texto: Bruno Costa
Coordenação Geral: Bruno Costa e Daniel Vilar
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