Os alunos da EB1 n.º 1 da Feira receberam hoje
as primeiras fogacinhas que a autarquia distribui pelo 1.º ciclo e a
Confraria da Fogaça, associada à iniciativa, explicou com histórias que
a tradição está relacionada com a peste.
A confreira Gracinda Sousa é autora de um dos contos que hoje aí
foram narrados repetidas vezes, em sessões com cerca de 50 alunos cada,
e, trajada a rigor para o efeito, declarou à Lusa que o objetivo desse
envolvimento é "divulgar e promover a fogaça e as tradições da cultura
identitária local", pelo que os conteúdos relativos à Festa das
Fogaceiras - que se celebra no concelho na sexta-feira - "até deviam
integrar o programa curricular das escolas do município".
Também com o chapéu a lembrar o pão doce que há 507 anos se vem
oferecendo a S. Sebastião pela sua proteção contra a peste negra, Joana
Martins admite que, em janeiro, as escolas da Feira "costumam preparar
previamente os meninos para a temática da fogaça".
A mestre da Confraria reconhece, contudo, que esse trabalho é mais
intenso nos estabelecimentos de ensino do centro da cidade, pelo que
espera que iniciativas como a de hoje "possam difundir mais a história
local e ajudem a sensibilizar para a tradição, não só as crianças, mas
também os adultos".
"A ideia é que os pais tragam as crianças a ver o cortejo, venham
viver com elas a tradição e ajudem a preservá-la por muitos anos",
afirma a confreira.
"No fundo", acrescenta o confrade Francisco Pinho, também ele autor
de outro conto sobre a principal iguaria da terra, "está-se a deixar
aqui uma espécie de fermento que vai ser levado para casa das crianças e
começará a crescer lá, com os pais dos meninos".
Para a professora Célia Duarte, toda esta componente pedagógica
resulta de um aspeto prático relacionado com o ponto alto da tradição,
que é o cortejo de sexta-feira com centenas de meninas a desfilarem de
branco com uma fogaça à cabeça.
"Há uns anos, a adesão não era a mesma e tornava-se difícil
convencer as meninas a participarem. O trabalho nas escolas surgiu para
dar a conhecer melhor a história, cativar as crianças e o facto é que,
agora, notamos nos miúdos uma grande motivação para este dia", diz a
docente.
A parte da fogaça na cabeça é aquela de que Manuel Ratola mais gosta
em todo o contexto da tradição. Tem sete anos, diz que a mãe é da
Feira e já lhe tinha falado da Festa antes de as professoras abordarem o
assunto. Está tão habituado a comer fogaça que a consegue cheirar no
ar e, enquanto falava, descobriu uma caixa cheia delas, reservadas para
as turmas da tarde.
"Se eu ia desfilar com a fogaça se o cortejo também fosse para
rapazes? Acho que não. Ia ter um bocado de vergonha", confessa. Mas
garante que gosta de ver as meninas a passar e não perde uma
oportunidade para saborear o pão tradicional com manteiga e com queijo.
"Sim, as três coisas juntas, todas ao mesmo tempo".
Já Inês, na sua pose de “senhorinha”, prefere o pão doce ao natural.
Embaraço também não tem e vai estrear-se este ano como Fogaceira,
porque gostou da ideia quando a professora a propôs às meninas da
turma.
"Falei à minha mãe e ela aceitou", revela. "Disse que os braços me
iam ficar a doer de segurar a fogaça, mas era para ver se eu desistia e
no desfile acho que vai ficar toda contente a olhar para mim".
Com o frio, a Inês também está a contar e sabe que sexta-feira vai
ter que levantar-se cedo para se reunir às centenas de meninas que, a
partir das 09:00, começam a assumir as suas posições no cortejo até à
Igreja Matriz.
Mas, na mesma pose serena do resto da conversa, encolhe os ombros e
assegura: "Não há problema nenhum. Eu já me levanto todos os dias às
sete da manhã".
@ Sapo
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