quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Paulo Santos [Milícia de Santa Maria] em entrevista à Bússola



Dando continuidade ao percurso de entrevistas a alguns dos intervenientes da última edição da Viagem Medieval, sentamo-nos com Paulo Santos, coordenador da Milícia de Santa Maria, a entidade que dá a cara pela “Investida”, o macro-espectáculo da Viagem.


Paulo, como começou a tua atividade no âmbito medieval?
«Foi um caminho percorrido ao longo dos últimos anos. Tudo começou com a barreira de tiro, há 9 anos que trabalhamos como arqueiros.»

Mas o caminho foi bem mais que isso. Como chegaste aos espetáculos, por onde começaste?
«Tudo nasceu na Feira, em 2008, quando fomos convidados a participar no Assalto ao Castelo, como arqueiros, com flechas de fogo. Aí nasceu a Milícia, na altura como o nome de Milícia de Geraldo Geraldes.
Entretanto fomos aprendendo. Temos escola Viv’Varte… foi um crescimento progressivo. Fizemos a Feira de Silves e em 2009 e 2010 assumimos, na Viagem, o Torneio do Mestre Arqueiro.
No primeiro ano do Torneio, fizemos algo mais pequeno, embora na Liça, e enfrentamos a nossa grande dificuldade: falar o medievalez. Ao segundo ano, o conceito mudou ligeiramente e começamos a ver a Liça cheia todas as tardes. Aí, sentimos que precisávamos de maior identidade e começamos a procurar um sentido para o nome. Como éramos todos desta zona, acabou por ficar a Milícia de Santa Maria.»

Entretanto deram novos passos?
«Sim, em 2011, avançamos para um espetáculo mais rigoroso, também ao final da tarde, junto ao Castelo. Foi uma sensação especial, em tudo, mas em especial na manutenção do conceito de recrutamento de público que já vinha do Mestre Arqueiro e que nos dá uma sensação de retribuição muito grande.
Este ano, voltamos a subir um degrau e chegamos ao palco maior. A Investida mantém também esse alinhamento da participação, tivemos connosco um participante muito especial que nasceu para isto no Mestre Arqueiro e demos uma grande participação à Espada de santo André.»

“Fomos aprendendo e percebendo como lidar com o público.”

Qual foi a sensação de explorar algo fora do Medieval, como no espectáculo da Terra dos Sonhos 2011?
«Ui. Eu estava lá com a pista, não apresentei projeto nenhum. Entretanto chamaram-me e fizeram-me o desafio: tu vais fazer um espetáculo de piratas na Terra dos Sonhos. Eu disse logo que não. Ainda por cima era na plataforma 1.
Na altura senti medo de arriscar. Mas acabei por ficar convencido e hoje penso que fiz muito bem em arriscar. Não posso dizer que correu tudo bem. Até porque tivemos problemas de visão no espetáculo, o espaço não era o mais adequado. Mas o resultado foi muito positivo, tivemos 20 pessoas em cena, falcoaria e muita cenografia.»

Como motivar tanta gente num espetáculo?
«É fácil. Só precisas fazê-los sentir parte do projeto e assumir responsabilidades. Assim, se falhas a responsabilidade é tua. Em resumo, acabo por distribuir a responsabilidade por todos os intervenientes.»

Onde encontras a força, as ideias, a vontade para a construção de um espetáculo?
«Não nascem de um dia para o outro…»

Como é que se chega a um espaço vazio, com tantas particularidades e singularidades de terreno e se monta aquilo que vimos na Viagem Medieval?
«Acaba por se resumir a encaixar lá o possível. Nós temos algum conhecimento militar, até de batalhas anteriores que já fizemos, como a Batalha de Atoleiros, um projeto em rio seco. Foi aprendizagem contínua, que nos permitiu chegar lá e aplicar os nossos conhecimentos da melhor forma possível.
Depois, temos de considerar que, apesar de as pessoas acharem que estão a ver um filme, a Investida é diferente de cinema e as pessoas não percebem isso. Aqui temos teatro, a câmara não vira para o outro lado quando é preciso. Não podemos ter milhares de mortos, porque eles não se voltam a mexer e teríamos de continuar o espetáculo em cima deles.»


“A mim assusta-me a falta de ideias”
Pedro Abrunhosa

Estavas à espera de tamanha adesão de público?
«Foi assim tanta? Com as luzes não temos a noção clara da quantidade de público que está lá.»

Qual foi a sensação de ouvir a gigantesca ovação do público, logo no dia da estreia?
«É o melhor. Eu não sou encenador ou realizador, eu sou um curioso. Isto acaba por ser um vício e eu agora gosto disto. Costumo dizer que já estou com ressaca, já estou com saudade. Está na altura de começar a pensar noutro.»

E então, há projetos para os próximos meses?
«Vamos apresentar uma proposta para a Terra dos Sonhos e vamos tentar a estreia no Imaginarius. Está na altura de pensar nisso e assumir o risco.
Até porque nós, com os nossos projetos, damos sempre trabalho a 10/12 pessoas, todas do concelho, todas desempregadas. Ao fazermos isto, estamos a criar oportunidades de trabalho.»

Texto: Bruno Costa
Coordenação Geral: Bruno Costa e Daniel Vilar

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